quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O dia em que Eloisa mudou o tempo.

Eloisa é minha amiga faz muito tempo, veio em casa pra me contar como terminou seu casamento.
Essa é a história que ela me contou, salvo alguns detalhes, é assim que entendi. Essa é minha leitura dos fatos. É o que eu lí nas entrelinhas... na minha forma de contar.
Mostro aqui, pra ela se ver no meu abraço. Espero que ela goste.
Eloisa não é o nome dela...mas elas vai se achar e com sorte, um novo amor também...


-Você chora? Ele perguntou.
Não, eu não, eu sou uma Barbie de plástico, uma estúpida boneca inflada que não sente nada.
O que ele queria? Me ver sofrer? Ela me pergunta sentada na minha cozinha.
Será que assim ele acharia que sou mais dócil? Mais menina?
Com ele eu descobri que as pessoas realmente choram no chuveiro, e eu que achava que isso era clichê de filme americano, coisa de cinema. O chuveiro é o perfeito lugar para chorar em paz, aquela coisa da água misturada com as lágrimas tem algo que conforta.
Se bem que eu não tive esses pudores, eu chorei sentada no banheiro do trabalho, na piscina do clube, na aula de hidroginástica que eu tinha me matriculado por sugestão dele. Eu chorei no táxi, na rua, na banca de jornal. Eu chorei muito, mas nunca na frente dele. E agora esse FDP vem me perguntar se eu sofri?
E a cara que ele faz quando me pergunta isso... Meio divertido, meio lisonjeado, meio desconfiado. Eu sei que são três meios, mas ainda é pouco pra um homem que tem duas caras!
Mal sabe ele que pra vir na merda desse encontro, eu me enchi de coragem, fumei dois maços de cigarro, mudei de roupa seis vezes e peguei um táxi, tremendo tanto que tive que pedir pro taxista me deixar no bar da esquina pra tomar uma dose de pinga, que desceu como fogo no meu estomago vazio, mas que fez essa droga de tremedeira passar.
Mal sabe ele que quando eu atravessei a rua e o vi sentado dentro do bar, numa mesa de canto, meu coração ganhou vida própria e começou a bater tão descompassado que eu tive que parar, fingir que arrumava o salto, só pra ganhar alguns minutos. Que na hora em que ele puxou a cadeira pra eu sentar, minha vontade era pular no pescoço dele e enchê-lo de beijos, fazer amor com ele em cima daquela mesa. Ele me pergunta:
- Como vai? Você parece ótima, emagreceu?
Tenho vontade de gritar. Faz semanas que não como, porque tudo me dói, minha pele, minha boca, até meu cabelo, tudo em mim sente a falta que ele faz... Mas ao invés disso, me controlo, sorrio e digo entre dentes:
-Você acha? Emagreci sim, obrigada.
Ele diz que me chamou porque tinha algo importante para falar.
Eu acendo um cigarro, tentando ainda me acalmar.
-Você não ia parar de fumar, ele pergunta. Lindos olhos verdes.
-Gosto dos meus maus hábitos - eu digo -eles me fazem companhia.
Ele ri divertido e segura minha mão gelada, que vai ficando morna em contato á pele dele, quase muito quente.
Ele então me pergunta porque nunca liguei. E bate com os dedos longos na mesa nervosamente. Eu olho aquelas mãos morenas e lembro de quando percorriam minhas costas nuas, ligando minhas pintas, como um menino que aponta estrelas. Minha voz embarga, eu cravo as unhas bem feitas na minha coxa, mania que adquiri ainda criança, para evitar chorar em público e sinto o controle voltar.
O que eu ia dizer? Nunca foi da minha natureza implorar, ele devia ter querido ficar.
Meu coração amolece.
Meu Deus, vou pular no colo dele, vou contar minhas inúmeras noites insones ao lado do telefone, minhas tentativas patéticas de sair com outro, alma seca, seca, seca, minha saudades que nunca acaba, minha pele que sente falta do cheiro dele.
Ele me diz estar muito feliz, eu digo que é assim que deveria estar.
E entre amenidades sobre o tempo, peço uma vodka.
Coração descompassado, sentimento transbordando, quando eu ia me confessar, quando eu ia me manifestar, baixar a guarda e falar...
-Amor me atrasei?
Era uma adolescente, máximo vinte anos, roupa justa, cabelos compridos, tingidos.
Ele segura a mão dela, olha para mim satisfeito e diz sorrindo
–Queria que você fosse a primeira a saber...
Nessa hora não sei o que deu em mim. Não me lembro direito.
Antes que eu pudesse perceber, antes que eu pudesse controlar, meu corpo virou água, eu virei água. E desagüei ali, na frente dele, na frente dela, naquela mesa de bar.

Amiga, pra você, meu colo e carinho sempre.
bjos
K.

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