domingo, 23 de agosto de 2009

Arritmia.

E ela que foi parar no hospital por causa dele. Dor aguda no peito, cegueira momentânea.
Passou a noite monitorada por estúpidos marcadores de batimentos cardíacos, que deixaram em seu peito manchas roxas, iguais a que ele deixava e que assim como ele, também não a deixaram dormir.
Noite toda incomodada, virando de um lado a outro sem conseguir relaxar, pensando nas milhares de coisas que não fez, nas centenas de coisas que não conseguiu dizer. Quando o Doutor chegou de manhã, a encontrou desperta, descabelada. Olhou-a por dois segundos e do alto de sua sapiência doutoral, seu posto de semideus da alma humana declarou:
-Stress! Dois dias de repouso em casa e acompanhamento com especialista.
Stress um cacete!
Isso é falta, é tristeza, é saudade. É tudo e é nada!
Sofia ficou indignada.
Especialista? Qual é o especialista que devo procurar para me curar de pé na bunda e canalhice?
Me diga Doutor... Ou no meu caso, burrice por não saber dizer NÃO.
Ainda teve que ouvir da enfermeira que não poderia ir para casa antes do seu responsável vir me buscar.
Quase comete um assassinato!
-Responsável? Que responsável minha filha?Eu sou totalmente irresponsável e não tem ninguém, ninguém entendeu? Se eu tivesse alguém não ia estar aqui sentindo meu peito apertar até perder a visão! Filha se eu tivesse alguém que valesse a pena, eu estaria linda, com a pele fresca, rindo sob lençóis. Olha bem para mim, descabelada, sem dormir, cheia de manchas roxas causadas por uma estúpida máquina. Só sobrei eu! Uma mulher com o coração em sobressalto tentando sobreviver a picada de escorpião... Um egocêntrico, cheio de si, que me envenenou sem me avisar. ! Estou num dia ruim filha, não respondo por mim, é melhor você me deixar ir!
Ela,a enfermeira, a olhou assustada. Sofia quase sentiu pena dela.
As mulheres iradas são capazes de cometer insanidades, sendo mulher, a enfermeira deve ter notado isso.
Sofia olhou para ela com olhar desafiador, a enfermeira calou, não disse mais nada.
Sofia voltou para o quarto, vestiu as roupas, colocou o salto alto, tirou o cateter do braço e apertou o botão do elevador.
Tontura, vertigem.
Lá fora o sol estava a pino, barulho de carros, gente indo e vindo. Acendeu um cigarro, colocou seus óculos escuros, acenou para um táxi.
O coração velho de guerra se aquieta, está pronto para outra.

Meu...de "Cacos de Vidro no Chão"
Bjos
K.

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