sexta-feira, 30 de agosto de 2013

AS PREPARADAS!

Assistindo á um vídeo no youtube da Valeska Popozuda, me deparo com a seguinte frase
-"A  BU###A é minha, eu dou pra quem quiser".
Passado o choque original, me pus a pensar na frase de efeito da moça.
Não que não seja verdade,
É desde os primórdios, mas fiquei me perguntando aonde é que me encaixo nessa época de muita bunda e pouca roupa.
Venho de uma geração que lutou muito pra ser independente.
Nós quando saíamos de casa para morar "fora" era um escândalo!
Moças mal faladas!
Dividir casa com namorado sem estar casada, baita guerra em família.
Tínhamos que nos especializar e assim fizemos.
Tínhamos que provar que podíamos.
Aprendemos línguas, fizemos cursos e nos emancipamos intelectualmente.
Brigamos para entrar no mercado de trabalho, ás vezes ganhando menos que homens na mesma posição.
E ainda sobrava  lavar, passar e cozinhar ( tarefa que muitas abriram mão -inclusive eu- como ato de rebeldia).
Ser mulher independente deixava o povo meio desconfiado. Fama de "dadeiras".
E seguíamos em frente, apesar de tanta língua ferina.
Continuamos nosso progresso apesar de.
E apesar de,
chegamos.
E apesar de,
conquistamos espaço.
E apesar de,
celebramos direitos adquiridos.
Apesar de,
abrimos espaço para a nova geração...
E depois de muitos apesar de, chega Dona Popozuda e sem papas na língua diz em todas as letras, que é assim.
E acabou.
Não sei bem o que pensar.
Tantos cursos depois e tudo se resume a dar o que é seu pra quem bem entender.( * Em tempo, nós brigamos por isso também!)
As relações ficaram com chiado.
Achei um pouco raso.
Mas também libertador.... ser livre e dona de sí mesma, sem se importar.
Tem algo lirico aí...
O povo escreve abrasso ( isso mesmo, com ss) e ninguém nota.
O que importa mesmo é o tamanho da prótese de silicone, a marca do carro, o preço da roupa.
Época de sub-celebridades emergentes, numa onda de ostentação.
Não tem mais muita discussão.
E ai vem essa moça e diz o que sempre soubemos mas ninguém dizia.
Tudo é cíclico. Pra minha mãe também deve ter sido um choque quando eu decidi mandar na minha vida.
Não me ofendi com a moça do bundão,  Muito ao contrário... sou a favor de emancipação!
Só achei que ela resumiu um pouco demais aquilo o que a gente tentou dizer.
É bem mais que isso...
Ser mulher tem muitas facetas, que seguem cursos acima e abaixo da linha do umbigo.
A minha tranquilidade vem de saber que cada um dá o que tem, porque é seu.
(Verdade!)
Pra quem quiser ou entender.(ou merecer)
Porque em terra de bunda, quem tem cabeça é rei!
E assim as cachorras seguem,
com as preparadas
e o baile todo.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

TUDO SOBRE MINHA MÃE

Eu nunca me dei bem com minha mãe.
Mulheres muito opostas, passei a adolescência inteira discutindo, batendo cabeça com ela.
Não combinávamos em nada.
Nem em gosto pessoal, nem em idéias, nem em vontades.
Era uma tortura.
Quando virei mãe melhorou um pouco.
Um pouco.
Passados muitos anos, me vi muito doente.
E morando de aluguel nessa crise pessoal, conversa em família e decisão geral ( eu não tinha muita voz)..onde me vejo?
De volta á casa da mãe.
Difícil no começo.
Depois de mais de duas décadas venho de mala e cuia, com 2 cachorros, filho adolescente e um monte de alunos ocupar o espaço da casa da progenitora.
Adaptações de móveis, adaptação de espaço, adaptação na vida.
No começo foi meio duro (meio?)..
Eu estava fragilizada emocionalmente, doente fisicamente, cansada.
Rolou um estranhamento.
Como colocar um pé firme diante da nova ordem?
Como me impor como mãe em uma casa aonde ainda sou filha?
Foi suado.
O tempo passou e lá se vão vários meses. Achamos um equilíbrio nessa equação tão delicada.
Hoje olhando para trás, nessas retrospectivas que a vida traz de presente, vejo que estamos em pleno processo de resgate.
Ela aprendeu  me ouvir. Eu aprendi a falar.
Ela cedeu espaço. Eu cedi tempo.
Ela me deu abrigo. Eu dei ombro.
E hoje passado um tempo, aprendemos a nos olhar com menos estranheza e mais clareza.
Ela reconhece em mim a mulher que sou.
Eu aprendi a respeitar a mulher que ela é.
Contamos histórias, damos risadas e até abandonei a minha ojeriza de cozinha e me pego fazendo bolo com a receita dela.
Não ouso dizer que achamos  a equação da perfeição. Longe disso.
Ela é calmaria e eu... bem, estou mais pra vulcão.
Mas a verdade é uma só.
Nessa casa dela, que hoje é minha também, habitam duas mulheres muito distintas entre sí e tudo bem.
A gente aprendeu com o tempo que as brigas eram pra ser, faz parte de crescer.
E sentamos tranquilamente para tomar café na cozinha a tarde. Percebo então, enquanto o relógio marca suavemente o tempo, como estamos diferentes no lidar.
O tempo passou pra ela também.
 E notando isso, agradeço aos céus por ter tido essa chance de poder dizer enquanto ainda é tempo, que ela é parte fundamental de mim.
Que eu sou feliz por estar aqui.
Que ela é importante na minha vida. E agradeço a acolhida.
Fico feliz de poder viver com ela ao meu lado nessa casa onde hoje, compartilhamos tantas coisas bacanas.
A vida é bonita as vezes.