sábado, 26 de junho de 2010

Á Francesa.

Nikky vivia rodeada de amigos, nunca tinha se apaixonado e achava que o amor era só uma ilusão para vender mais perfume em datas especiais.
Já tinha namorado alguns moços bacanas, mas diferentemente de suas amigas, nunca tinha sentido nenhuma grande explosão.
Nikky achava que era fria e assim se conformava em ser.
Nikky vivia com a família tradicional e gentil, mas que nunca discutia assuntos desse gênero em uma mesa de jantar.
Nikky estava acostumada a guardar tudo dentro de si.
E ela guardava diques e represas de sentimento contido.
Um dia surgiu a oportunidade de estudar fora, não pensou duas vezes, precisava sair do marasmo e foi, mudou de país, com cara a coragem e sem idéia do que ia ser.
Chegou do outro lado do continente, sem conhecer ninguém, mas feliz...
Andava quando queria, dormia quando queria, comia quando queria... Uma nova sensação de total liberdade se apossou de Nikky e com essa sensação um monte de sentimentos pequenos foram vazando...
Um dia na aula de culinária, Nikky notou uma moça bem mais jovem que não tirava os olhos dela...
O coração acelerado.
Ficou sem graça sem saber porque.
A moça se aproximou, perguntou algo...
Começaram a conversar, saíram para jantar e a moça sem avisar beijou Nikky, e sem que ela entendesse , sem que notasse a represa arrebentou.
Tudo fez grande sentido e Nikky entendeu porque nunca antes havia sentido tantas coisas juntas...
A vida começou a fazer sentido.
Voltaram juntas para o Brasil, e abriram um restaurante.
Da última vez que vi Nikky elas iam comemorar oito anos de relação com uma super viagem pra um lugar muito romântico.
A família de Nikky continua sem comentar o relacionamento.
Mas todo domingo quando elas vão almoçar com a família e levam junto o cachorro que adotaram, a mãe de Nikky olha o bichinho e diz toda contente:
-Vem com a vovó totó.

Amor é bão!

Amiga, saudades de vocês..
K.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

o casaco de visão.

Fui dar aula para umas aluninhas minhas e durante o café elas me contam indignadas que a mãe, uma mulher chiquetéssima que eu adoro, ao ver uma mulher dormindo na rua no dia mais frio do ano, não teve dúvida, tirou o casaco que havia trazido de uma viagem de fora do país e deu para senhora em questão.
As meninas ainda adolescentes, não entendiam como a mãe deu assim, para uma estranha completa, um casaco tão lindo e caro, que elas disputavam entre si para usar. A mãe, que é de uma delicadeza impar, respondeu tranqüilamente que o casaco foi feito para aquecer e que estava cumprindo sua função.
Adorei essa história, e voltei pra casa pensando em como a mulher moradora de rua deve ter se sentido.
Gosto de imaginar finais felizes... Gosto de imaginar histórias. Então desenvolvi mentalmente um enredo para a moça e o casaco.
Vou chamá-la de Veridiana...

Veridiana recebeu o casaco atônita. Nunca antes em sua vida havia possuído algo tão bonito assim. A moça que lhe deu o casaco não a tratou com desprezo, olhou nos olhos dela e deu um sorriso tão gentil que aqueceu o quarteirão.
Estava na rua porque havia sido enganada, uma promessa fajuta de amor a havia trazido de muito longe para São Paulo e quando aqui chegou, encontrou outra mulher morando em seu lugar, no lugar que ele, de olhos cinza havia prometido para ela.
Sem parentes e sem amigos, Veridiana não sabia o que fazer. Também não havia vindo preparada para enfrentar um clima tão frio. De onde ela viera, só havia sol...Muito sol. Ela sentia falta disso.
Veridiana se sentia a última das mulheres, não só fora enganada, como agora era descartada e engolida pelo cinza mecânico dessa cidade.Tinha se tornado invisível.
A moça bonita do casaco perfumado foi a primeira pessoa que notou Veridiana.
A moça lembrou Veridiana do quanto ela era especial.
Na manhã seguinte Veridiana foi procurar emprego, se sentia linda com o casaco novo. Confiante e tranqüila logo se acertou.
Arranjou um restaurante onde podia morar no quarto dos fundos.
Veridiana que sempre foi boa cozinheira, sabe que irão gostar de seu tempero.
As coisas andam tranqüilas agora. Mas às vezes Veridiana sente ainda um pouco de medo da cidade tão grande.
Quando é assim, ela veste o casaco e se sente protegida e amparada.
Lembra do sorriso da moça e de como se sentiu ao ser notada.
O casaco e Veridiana estão seguindo sua missão.

É assim que devia ser..
Quando um gesto de delicadeza pode fazer toda a diferença e mudar a história.

Essa vai para a moça chiquetéssima, que todo dia me surpreende, apesar de tantos anos que somos amigas.
Love u.
Bjo K.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Passa- tempo.

Ele me pediu para esperar, e eu esperei.
Ali de pé mesmo, achei que era coisa rápida e não me importei.
Passou um tempo, minhas pernas começaram a ficar cansadas... Estava desconfortável, sentei.
Ele pediu para eu esperar... Eu esperei sem reclamar. Mesmo com a câimbra que me dava de estar assim, tanto tempo sentada na mesma posição.
O chão era duro. Mas ele pediu para esperar. Esperei.
Meus dedos começaram a doer por causa do frio, eu não tinha saído preparada para uma espera prolongada. O vento congelava meu pé, mas tirava o foco da câimbra. Ele pediu para eu esperar. E alí fiquei.
Acendi um cigarro para o tempo passar.
Tic tac,
Tic tac,
Tic tac...
Alguém de longe acenou em minha direção, parecia um moço bonito. Não fui checar porque ele me pediu para esperar. E assim como eu estava, não atrevi me mover.( Apesar do moço parecer muito empolgado em me ver...)
Ele pediu para esperar, eu comecei a me preocupar,eu mandei torpedo, eu tentei ligar, mas ele estava incomunicável. Resolvi aguardar.
Ele pediu para eu esperar, mas toda aquela espera sem sinal nenhum começava a me incomodar, agora já nem era o frio, acho até que já tinha mudado a estação. Parecia que tinha chego o verão.
O que me incomodava eram as raízes que eu tinha criado.
Por que mesmo é que eu havia esperado?
Meu corpo adormecido,criou um vinculo com a espera.
Outra vez vi o moço bonito, dessa vez ele veio mais perto.
Pedi pro moço me ajudar a levantar, e lentamente comecei a andar.
A vontade de ver outras coisas não me deixava mais ficar.


Eu sei que ele tinha me pedido para esperar...
Só não me lembro mais porque...

K.

Migalhas...

Todo mundo exalta as qualidades do amor, as vantagens de se estar apaixonado, as vontades, as saudades...
Mas existe um lado do amor que é bem menos glamouroso...Um lado que quase ninguém lembra, e quando menciona, vem carregado de subterfúgios e sussurros. Um lado que nos envolve de vergonha.
O amor às vezes nos leva a mendigar...
Isso mesmo, mendicância pura!
E não importa se você tem duas faculdades, fala seis línguas ou se é PHD em algo.. Um dia ou outro, sem querer e sem notar lá está você: mendiga.
Esse é aquele degrau que não sabemos bem como foi a que fizemos a dura caminhada até lá...mas quando nos damos conta, queremos descer o mais rápido possível e não lembramos direito o caminho de volta.
A mendicância é antítese do amor, o próprio.
Tenho uma amiga maravilhosa, pessoa bacana mesmo, divertida, bem humorada, inteligente, ganha bem, mora bem, tem muitos amigos... E é mendiga. Daquelas brabas. Daquelas que se você cruzasse na rua, ia ter medo de andar do mesmo lado da calçada.
Se envolveu com fulano e viveu um grande amor que acabou.Todo mundo sabe, todo mundo vê.. ela não. Ele mora com outra, está indo viajar para Europa de férias e ela liga pra saber como vai e pasmem: vai cuidar do gato dele quando ele estiver com a outra em férias.
Por que? Ninguém sabe explicar... Nem ela mesma.
Ninguém sabe como aconselhar, porque no fundo, no fundo, todas nós temos um imenso teto de vidro quando se trata de mendigar.
Que atire a primeira pedra aquela poderosa que nunca insistiu mesmo sabendo que A-CA-BOU!!!
Algumas de nós usam a desculpa de que não é possível ele ter encontrado outra ( que o entendesse, que o amasse, que o ouvisse, que o desejasse, que fosse na cama...) tão boa quanto ela.
Pois bem, ele encontrou! E ao meu ver, até encontrou outra totalmente diferente dela, tão diferente que de nada lembra a moça em questão ...
O que importa? É outra e ela continua a mesma. E acreditem, não tem nada de errado em ser ela.. ela só não é a outra..
Ahh os circulos viciosos do amor!
Eu não posso falar muito, também insisto naquilo que já não tem mais o mesmo brilho....
Insisto porque achei um dia que ia ser perfeito. Insisto porque sou uma romântica incuravel que acha que vale a pena, mesmo quando não é bilateral...
Insisto até acabar a cegueira.
Eu vi, o outro não.
Fazer o que?
Não adianta se martirizar na vergonha de ter insistido tanto.
O melhor a fazer é admitir, que surtou, que gostou mais, que fez demais.
E esperar por uma próxima, porque as próximas sempre acontecem.
Dessa vez ( oxalá) com quereres iguais, com alguém que seja tão imenso quanto você.

Nas voltas estranhas que o mundo dá, a gente acaba acertando...
Boa semana.
Bjos.
K.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Batucada braba.

Helena sempre agiu conforme o figurino.
Boa moça, aprendeu a falar francês e alemão, estudou piano clássico, nunca bebia mas sabia tudo sobre vinhos, como uma moça fina deveria saber.Também não falava palavrão, nem palavras feias, nem chulas..
Se formou muito jovem e emendou a graduação em uma pós, mesmo sem saber se realmente gostava da área. Fazia trabalho voluntário e freqüentava a missa religiosamente aos domingos, mas não entendia direito e tinha medo de perguntar se Deus realmente existia. Helena nunca levantava a voz, nem entrava em debates e era muito, muito infeliz.
Aos 43 anos, solteira, sem filhos e ainda morando com a mãe, Helena ganhava o suficiente para fazer o que bem quisesse, só tinha um único problema, Helena não sabia o que queria.
Um dia resolver num impulso (o que deixou a mãe horrorizada) fazer uma viagem de cinco dias para a Bahia.
Helena foi com as mil recomendações dos amigos e parentes( tão sensatos como ela) que uma moça de família devia levar ao ir á um lugar assim.
Chegando no hotel, sem nada programado para fazer, Helena se permitiu andar a esmo e se viu caminhando em direção á um batuque delicioso. Fim de tarde, roda de capoeira, Helena se pegou vidrada observando os movimentos de um rapaz mulato forte e ágil, e se encantou. Ele também gostou dela e uma coisa levou á outra. Saíram. E com ele Helena experimentou de tudo. Descobriu incrédula que ama cachaça e comer arroz com ovo, que gosta de andar descalça e nadar pelada. Descobriu que o Deus que ela temia não era nada rígido e Helena começou a freqüentar as rodas de candomblé.
Helena largou o trabalho e montou uma pousada. Adora dar aula de francês para a criançada da vila. Anda sozinha sem medo e fala ás gargalhadas.
A mãe de Helena quase surtou. Ameaçou, se internou, ameaçou internar Helena.
Falou com amigos, com conhecidos, mandou cartas e faz uma novena ritmada na igreja para que Helena volte.
Boa moça que é, Helena nem se dá ao trabalho de entrar em debate.
Cortou relações e manda todo mês um postal mais lindo do que o outro só pra mãe ficar tranquila que Helena está viva.
O capoerista foi amor passageiro.
Não sei se Helena encontrou um novo amor.
Mas ela encontrou a si mesma.
E está muito feliz.

por dias mais transparentes.
bjos K.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Pequenas Lascas.

Já reparou que é quando você esta com a roupa mais relaxada, o cabelo em um dia ruim, sem maquiagem é justamente nesse dia que acontecem os encontros especiais?
Pode apostar, saiu de casa correndo, com a roupa meio descombinada, o cabelo preso em um rabo de cavalo, a cara lavada, sem perfume e PUM...Milagrosamente vem aquele bonito dentro da sua história e você fica mentalmente desejando ter tirado mais cinco minutinhos, só cinco, pra caprichar mais na produção...
A vida tem um senso de humor bizarro.(na verdade acho que é um senso de humor sensato).
Enquanto nos martirizamos tentando esconder o que achamos que é defeito, é justamente aí nesse ponto, nesse fragmento, que os outros nos notam mais.
Acho que na verdade isso é um lembrete diário pra nos provar que ninguém consegue viver no modelão.
Naqueles dias de produção “mega caprichada”, escova, manicure, depilação, roupa cara, perfume idem... Você chega achando que vai arrasar e ninguém te nota.
Por quê?
Por quê?
Porque na verdade, o que atrai o outro é você, como você é todo dia.
O seu jeito de rir jogando a cabeça pra trás, a sua mania boba de falar apressadamente sem fazer pausa quando está envergonhada, seu jeito de olhar com interesse quando algo te deixa confusa, sua vontade de querer ajudar, mesmo sem conseguir, a fala mansa ao acordar de manhã,o enorme tempo que você leva pra arrumar o cabelo, o jeito que você enrosca um pé no outro para dormir, a maneira como você conversa com os cachorros na rua...O jeito que você fica vermelha, quando revelam seus segredos.
São essas as coisas que marcam sua presença.
Pergunta pra qualquer homem:
-O que eu estava vestindo no nosso primeiro encontro?
Eles nunca vão saber dizer.
A única coisa que vão lembrar é como você encheu o lugar com sua risada, ou a maneira que você andou até o carro...
Sem saber, marcamos presença na vida dos outros da forma mais inusitada...Tentamos esconder justamente aquilo que nos faz únicos.
Gostar, querer bem é gostar também dos defeitos, das pequenas lascas, das pequenas falhas.
Bonito mesmo é aquilo que é imperfeito, mas vira perfeito pra você.
Ninguém sabe bem explicar...Um dia você olha e percebe que aquele monte de pequenas bagunças pessoais fecha bem com você, junto com toda a bagagem que isso acarreta.
E sem nem pensar, você vai abrindo espaço e quando deu por si, já criou um quarto dentro de você pra abrigar a bagunça alheia que entra na sua vida causando uma confusão...Mas que você adora e já não sabe viver sem.
Porque afinal, somos assim, um trabalho em construção...
E vivemos mudando.
Graças a Deus!

Boas..
bjos
K>

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Mala educacion....

Acabei de voltar de férias...Depois de NOVE anos trabalhando direto, ganhei do meu irmão o melhor presente que alguém poderia me dar...Uma semana inteira de sossego e mimo, em um outro país, com outra língua, conhecendo gente nova, sendo turista mesmo...
Passei super bem , relaxei, dei muita risada, comi bem, bebi vinho. PERFEITO.
Voltei renovada e muito, muito feliz.
Chego no Brasil, ainda rindo sozinha ( ou deveria dizer solita?? ) e pego o onibus no aeroporto internacional... Triste por deixar meu irmão e os amigos que conheci, feliz por estar de volta em casa. Ainda estava meio sonhando, tranquila, quando o motorista do onibus do aeroporto começa um mega bate boca comigo por causa da minha mala.. O ser em questão estava (sem dúvida nenhuma!) com algum problema pessoal e resolveu descontar em quem? Em mim!
Fiquei bravíssima, mas como acabava de voltar de uma semana de paz interior resolvi relevar.
No dia seguinte, saio com minha amiga Ann, chiquetéssima como ela só, para um jantariznho japones, e conto o acontecido.. a Ann de cima de sua finesse total olha pra mim e diz;
-Mau humor é falta de educação!
Pronto, resumiu tudo...
É isso mesmo Ann... Verdade absoluta...
Nada mais mal educado do que atacar alguém que não tem nada a ver com seus problemas porque está chovendo em cima de você...
Se eu não estou bem, eu simplesmente me recolho. Ninguém tem nada que pagar pelo meu baixo astral...
Uma energia ruim dissipada pode causar uma onda ruim de proporções tsunamicas!!!
Tá de mau humor?
Vai dormir!
Vai rir!
Vai namorar!
Vai comer!
Mas vai....
E só volta quando tiver de bem..ou então pelo menos aberto pra receber o bem.
O motorista deve estar até agora brigando com estranhos..
E depois não entende porque só chove na vida dele.
Um dia de sol pra nós..gente bem educada.
bjos K.