terça-feira, 31 de agosto de 2010

Cauda de Cometa (Pobre, pobre Mikelly)

O nome dela era Mikelly, sim porque a mãe ouviu uma vez a patroa falar um nome que soava assim e achando lindo, quase estrela de cinema, batizou a menina, que cresceu na periferia da cidade, com a promessa de ser alguém.
Os pais muito pobres,faziam de tudo para agradar á garota, que cresceu sem ser bonita, mas que aprendeu com a vida a saber se virar.
Era geniosa, difícil e muito ambiciosa. Passava os dias imaginado tempos melhores e fazia de tudo para que logo chegasse.
Um dia ao procurar emprego em uma galeria de arte, deu de cara no elevador com seu destino. Dentro de seu vestido novo comprado em seis vezes em um cartão de crédito emprestado pela amiga, Mikelly viu naquele senhor quase vinte anos mais velho a escada para sua subida meteórica.
Sabia falar bem e conseguiu o emprego, começaria no dia seguinte como recepcionista..
Seu namorado motoboy a levava todo dia ao trabalho, faça chuva, faça sol, gostava de ser gentil e era..
Mikelly da pele cor de azeitona e cabelo tingido de loiro claro, só pensava em se dar bem, sabia ser muito solicita, ficava até tarde no serviço, esperando a chance de conversar com o senhor do elevador, que era o dono do lugar.
Quando em uma noite de chuva torrencial o tal senhor ofereceu carona, Mikelly dispensou rapidamente o namorado motoboy com uma mentira de hora extra e saiu sem pestanejar ( com tudo já planejado, passou antes no supermercado e comprou a menor e mais apertada calcinha preta que consegui encontrar).
O senhor muito educado a levou á um restaurante tranqüilo onde poderiam calmamente conversar. Mikelly deslumbrada pediu os pratos mais caros, sem saber na verdade se gostava, tentando impressionar.
Foram ao motel, o senhor de terno já sem roupa não era lá essas coisas, e seu hálito recendia á cigarro, Mikelly detestava, mas fingiu com maestria não se importar..
O sexo foi rápido e desconfortável, mas Mikelly amou o quarto, Mikelly amou o carro, Mikelly amou o luxo e resolveu ignorar.
Mikelly mentia para todos, inclusive para o namorado (apesar de estarem juntos há cinco anos) e ele que conhecia cada trilha de seu corpo e conduzia com maestria de “cachorro louco” os caminhos que á levavam ao prazer não entendia essa ponte distante que ela criava entre os dois.
As saídas com o senhor ficaram mais constantes, o sexo continuava péssimo, mas Mikelly se obrigava a não ligar, e apesar de voltar toda vez para casa amargurada Mikelly ganhou um carro, viagens para a praia e até um cachorro.
Mikelly sentia que seu dia havia chegado. Nunca mais havia tomado um ônibus lotado. Nunca mais pagou um cartão atrasado. Nunca mais se sentiu pobre.
Casaram-se.
O Motoboy foi convidado. Coração partido, mandou um presente com um cartão, que Mikelly não leu..nem sabe direito porque.
Mikelly chegou lá.
Mas toda noite, quando o marido dorme um sono pesado, Mikelly levanta na ponta dos pés e vai até a varanda. Na quietude da cidade, sozinha com seus pensamentos, Mikelly lembra do que deixou para trás, e se ouve um rouco de motor de uma moto que passa na rua, Mikelly chora escondido, seu coração bate acelerado e perde o ritmo dizendo: saudades, saudades, saudades.

Porque beijar na boca com vontade...não tem preço!
bjos
K.

Pinochio e seu pequeno nariz.

Uma querida amiga, em momentos de aflição sentimental recorre á um homem colega para pedir ajuda e ouvir opinião sobre a maneira masculina de pensar.
Eu pessoalmente acho graça nessa relação porque o homem em questão ( vamos chamá-lo gentilmente de Mr X) não é exatamente assim, um exemplo de bom caráter.
Minha amiga conta que quando desfia suas dúvidas para Mr. X ,em relação á comportamentos do homem escolhido por ela no momento, Mr. X fica indignado que o “tal escolhido” possa ter tamanha incoerente reação. Ela me conta animada que o Mr. X falou, e diz que ainda há esperança da relação entre ela e o bonitinho mudar. Mr. X só diz o que minha amiga gosta de ouvir.
Eu ouço cética, e normalmente deixo de omitir minha opinião porque não quero magoar a querida em questão. Mas como esse Blog é um lugar para reflexão, deixo aqui meu parecer...para criar no mínimo um debate.. ou um novo olhar.
Quando perguntamos algo para alguém, o fazemos porque acreditamos que nossas personalidades são parecidas.
Admiramos o caráter da pessoa á quem solicitamos opinião. Achamos que a pessoa tem um mínimo de retidão. Sua visão sobre certos assuntos nos faz diferença .
Dar uma opinião é algo importante porque baseamos normalmente nossas respostas naquilo que já vivemos, naquilo que já sentimos e principalmente nos erros que cometemos e não queremos voltar a fazer. (Sim, continuamos com um imenso teto de vidro, e tentamos sempre melhorar apesar de..)
De que adianta pedir opinião á alguém de caráter duvidoso. De que adianta ouvir de uma pessoa um longo discurso sobre a beleza das relações ás claras, se quem nos dá o conselho não vive nessa retidão que exige dos outros?
Quem quer perguntar para o Pinochio se a história é verdadeira? Só mesmo se a intenção for para ver algo crescer.
Acredito muito em relação entres homens e mulheres, tenho dois irmãos á quem recorro constantemente.
Se tem uma coisa que eles me ensinaram é que ninguém dá um conselho verdadeiro sem usar como padrão pessoal. Um bom conselho é uma maneira de traçarmos nosso caminho também.
Palavras, são só palavras.
Elas só viram algo maior, se fazemos do que dizemos algo em que acreditamos e vivemos.
Senão, somente conselhos da carochinha, contados para crianças , antes de dormir, numa terra de conto de fadas, onde meninos de pau viram HOMENS de verdade.

Boa semana..
Boas intenções carregadas de verdade.
bjos
K.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Embaixo da ponte tem um viaduto.

Como todos bem sabem, eu não dirijo e não dirigir na cidade de São Paulo te coloca em uma categoria de cidadã observadora.
Quem passa o dia no carro vive alheio a estranhíssima fauna que ronda nossa cidade.
Pra mim que vivo á pé, as cores são outras.
Passo minhas tardes descrevendo para amigas as situações mais bizarras que vejo dia a dia  surpreende e que um cidadão motorizado não perceberia nunca com os vidros do carro fechados e a musica ligada.
Pego um ônibus lotado, hora do rush..ao meu lado senta uma moça vestida como advogada, saca o celular da bolsa e começa a falar muito alto com a voz anasalada.
-Claro amiga, escuta o que estou te dizendo, ele é casado e só quer te comer..
-Não amiga, ele gosta de você, mas não gooooossstaaaaaa entende?.
(Não ouço o outro lado da conversa, mas pelas respostas pode se imaginar aonde íamos parar.).
-Você usou a lingerie que te dei amiga?
-E o que ele falou amiga?
-Claro né amiga, não falha nunca. Você sabe que sou poderosa né amiga? E comigo ou dá ou desce...
-Amiga, falei pro Vanderlei que era a última vez aí ele me levou naquele motel, lembra amiga?
-Foi o máximo amiga, logo mais pode escrever que ele vai largar a loira azeda..
-Eu sou fogo amiga.
Presto atenção nessas coisas, não consigo evitar.
Se bem que no tom em que ela falava, tenho certeza que todo o ônibus prestava também.
Desço do ônibus atrasada para minha aula, pensando no que "a amiga" poderia ter dito.
Tento atravessar a rua mas sou impedida por uma multidão em circulo.
No meio da roda uma moto caída, dois homens no chão agarrados num mata leão.
O motoboy gritava com um homem visivelmente embriagado:
-Você podia ter nos matado
Ao que o homem respondia:
-Me larga mano, assim não quero mais brincar.
O povo em volta dá muita risada.
Parece que o bêbado em questão queria brincar de dançar entre os carros e acabou derrubando o motoboy. Quando foi jogado ao chão ele achava que o motoboy tinha entrado na brincadeira.
Esqueço o atraso e paro para um café no canto do bar um casal enamorado:
-Você lembra? Quando te liguei a primeira vez, achei que você não ia aparecer..
-Pois é- responde o rapaz com cabelo espetado e um leve blush.- Eu fiquei naquele restaurante japonês me embriagando de saquê achando que tinha tomado um cano.
O rapaz mais forte segura na mão dele e diz:
- Valeu a pena esperar não?
Eles sorriem e se abraçam, me pego sorrindo também.
Eles me olham, sorrimos todos.
Faz calor, a cidade está agitada.
Seguimos em direção oposta... me sinto acompanhada.
Os personagens da cidade fazem parte de mim, não sei o que eles pensam quando me vêem, mas tudo que ouço eu registro em algum lugar do meu dia,
eu os levo comigo.
Por segundos somos todos cúmplices da mesma cena.
Fazemos parte de algo imenso e incrivelmente particular...
Como juras de amor que se diz ao pé do ouvido.

Porque boas histórias nasceram para ser contadas.

Bom finde.
Bjos K.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Injeção na Veia.

Eu andei muito doente essas últimas três semanas.
Fazia tempo que não me sentia assim. Tudo doía, até meu cabelo. Fiquei de cama, tomei dúzias de remédios, fui parar no hospital várias vezes, um porre!!
Médico pra cá, médico pra lá e ninguém sabia exatamente o que era..
Gripe mal curada? Inflamação de ouvido? Intoxicação alimentar?
Conheci vários caras legais, todos doutores, que me viraram de ponta cabeça e não sabiam exatamente o que me dizer. Afe, um glamour!
Foi complicado, porque estar doente deixa a gente carente e sensível...Eu só queria deitar e dormir e se pudesse sumir.
Mas a doença trouxe um saldo positivo. Além de fazer o check up que venho adiando há anos, também me deu a oportunidade de ver como sou bem amparada, como é forte minha rede de amigos.
È impressionante que quando você está no fim das suas forças, sempre aparece alguém legal pra melhorar seu dia, dizer que vai passar, segurar a tua mão e te fazer rir da situação.
Amigos... Amigos, dos bons.
Eu fiquei uma chata, e mesmo assim essa rede de segurança não desistiu de me colocar pra cima. Chorona, eu queria ficar quietinha e sabe o que? Foi impossível, toda hora telefone tocando pra saber se estava tudo ok...E no final me fez muito bem!
Não sei porque quando tudo está difícil queremos mais é nos esconder e ficar sozinhos... Com boas pessoas ao lado fica tudo bem mais fácil! A vida segue seu curso natural e tudo está exatamente onde deveria estar.
Esse tipo de coisa nos faz rever a nossa própria estória e perceber que ao longo do caminho talvez plantamos algo muito bacana, porque na hora de precisão, houve muitos bons frutos e muita sombra acolhedora pra relaxar embaixo.
Talvez não somos tão tortos como pensamos.Talvez façamos muitas coisas certas sem notar. Talvez estamos andando na direção exata.
O que sei é que pode ser que ainda não está tudo cem por cento...
Pode ser que ainda tenha uma coisinha aqui e outra ali pra resolver. Mas se você me perguntar hoje como vão as coisas...
-Está tudo ok sim.
A gente vai levando, com uma boa ajudinha dos amigos.
E isso é melhor que qualquer remédio.

Saúde pra todos..
Bjos
K.