sexta-feira, 13 de maio de 2011

O trilho do trem

Quando eu era menina, eu morava na Avenida Paulista e sonhava ser, como várias meninas da minha idade, adulta.
Eu queria ser independente, eu queria viajar, eu queria trabalhar, eu queria opinar.
Um dia voltando da escola, havia uma manifestação e curiosa como só, passei perto para ver. Aglomerado de gente gritando. Eu adolescente, camisa da escola. Quando cheguei perto, era uma manifestação contra o massacre de Sabra e Chatila.
Foi aí pela primeira vez que senti minha identidade judaica. Alguns manifestantes gritavam slogans de morte aos judeus e eu usava um uniforme com uma menorah ( simbolo judaico) enorme.
Para mim, eu era judia e também brasileira. O que estava acontecendo?Aquela não era uma briga no oriente médio?
Fugi apavorada, sem entender direito. Na escola foi reforçada nossa segurança. Foram mudados os uniformes, nas sinagogas cresceu a vigilância e eu comecei a ter medo.
Eu cresci, descobri que o mundo não é um lugar perfeito, que as pessoas não se entendem direito e que a vida ás vezes pode ser caótica porque você gosta mais de amarelo que azul.
Eu entendi que o ser parte de qualquer minoria ás vezes dá a sensação de que se deve pedir licença para passar e desculpas ao se manifestar; que o diferente ainda incomoda e mais que tudo assusta.
Nós moramos em um país onde a liberdade de expressão e o direito a diversidade religiosa é garantido por lei. Essa semana, infelizmente, me senti de novo, como aquela menina de uniforme escolar apavorada na Av. Paulista.
Como foi que uma questão de transporte público, virou uma apoteose de ofensas antisemitas nas redes sociais? Porque uma única mulher com um comentário infeliz, vira representante de uma classe inteira? Quem disse que ela era judia? Qual foi na verdade a grande discussão? O bairro tem uma população judaica grande então, ela deve "obviamente" representar toda a população judaica da cidade de SP?
Eu sou judia, vários amigos meus também. Ninguém nos consultou. Álias, para mim, que não dirijo, o metrô ia ser uma ótima.
Porque ainda usamos qualquer subterfugio para humilhar e degradar aquilo que não é como nós.
Nas redes socias foi retratado como piada, usaram até os sobreviventes do maior genocídio da história- o holocausto- como bodes expiatórios. Não ví graça, nem consegui rir. Da mesma forma que não ví riso nenhum em bater em homosexuais na AV. Paulista ( olha ela aí de novo!) ou ofender o povo nordestino. Alguém realmente se divertiu com isso?
Sou eu que ando muito séria, ou realmente acabou a graça?
Por uma sociedade mais diversa.
Diversidade, isso sim é divertido!

vai sexta!
bjos
K.