sexta-feira, 1 de março de 2013

Cartas na Mesa com Dubale.

Há muitos anos atrás conversando com um grande amigo, nessas conversas que varam a noite, discutíamos sobre o futuro, algo que naquela época parecia  muito, muito distante.
Conversa vai, conversa vem, começamos a falar de amor, e eis que meu grande amigo vira pra mim e faz uma pergunta que nunca tinha me ocorrido:
- E se você não encontrar o GRANDE amor da sua vida? Pode acontecer... O que você faria?
Do alto dos meus dezoito anos bem vividos, olhei para ele com espanto.
- Deixa de ser depressivo criatura, isso é impossível. Sarava!
Mais de vinte anos se passaram, continuamos amigos e a tal reflexão voltou.
O que fazer?
Nem todos nós crescemos e viramos Presidentes de Multinacional, Presidentes do Brasil, Rock Stars, grandes atores ou descobrimos a cura da aids.
Nem todos  viajamos para lugares exóticos, vivemos aventuras em países longínquos, aprendemos oito línguas.
Alguns de nós não encontraram o GRANDE amor. Alguns não encontraram na primeira vez, outros estão na terceira tentativa, tem também aqueles que pararam de procurar.
Aqueles que tiveram seis filhos, alguns fizeram tratamento pra engravidar, uns nunca quiseram, outros resolveram adotar.
Grandes amigos foram embora desse planeta mais cedo, cedo demais eu diria.
Outros estão brigando para ficar. Tem também aqueles que estão aqui e não sabem.
Queridos que saíram do armário, amigos que mudaram com o tempo, amigos que casaram de papel passado, com festa e cerimônia religiosa, tem também os que são só amigos e moram juntos.
Amigos que escolheram não se fixar. Amigos que mudaram e nunca mais se ouviu falar.
O Tempo passou, perdemos umas, ganhamos outras. "C'est La Vie"
E aí? O que fazemos com tudo que deu errado?
Com o que não estava planejado?
Sim, a vida vem com suas surpresas e é importante saber ser flexível e mudar.
Mesmo que não pareça algo grandioso, mesmo que sua função nesse planeta seja ser simplesmente o melhor que você puder.
Vai saber.
Ninguém sabe o que está marcado nas cartas desse baralho.
Se você não casou, não virou um rock star, não fala vinte línguas, não fez tudo aquilo que queria fazer... não faz mal!

O que importa mesmo é saber jogar.
E continuar tentando...


Prédio no chão

Estou cansada da cidade grande, do caos, do engarrafamento, das pessoas correndo, da falta de amor, dos pedintes, dos perdidos na solidão da multidão.
Sinto falta de colocar o pé na areia, na grama, na água.
Sinto falta do céu estrelado, do barulho de bichos, do ar fresco.
Quero passar duas horas falando com amigos, olhando nos olhos  e não aproveitar meu tempo presa no engarrafamento para trocar SMS  e colocar o papo em dia.
Nossa telefonia que não funciona reflete a falta de comunicação entre iguais.
Não quero que meu filho me ligue pra dizer que cruzou a cidade e está bem, que conseguiu ficar ileso da inundação, que não foi assaltado, que não correu risco em um desabamento de  prédio.
Quero ouvir dele que conheceu alguém legal, que se apaixonou, que viu uma obra de arte e se encantou, que viu um show que agradou, que teve momentos felizes.
Quero dormir sem sobressalto.
Sem ser acordada pelo vizinho brigando, pelo caminhão da pamonha passando, pelo medo de que perdi a hora.
Quero dormir o sonho dos justos, e apesar de não ser tão bacana assim, quero poder dormir em paz.
Quero poder visitar uma amiga e ficar conversando até altas horas sem me preocupar com o estacionamento, se vai fechar, se o carro vai estar lá, se a rua vai estar vazia demais, escura demais.
Quero fazer do meu tempo meu aliado e poder correr lado a lado e não ele na frente e eu sempre afobada atrás.
Quero comer sem me preocupar, se isso engorda, se tem agrotóxico demais  se é trans, se é pans, ou qualquer outra sigla que não sei o que quer dizer, mas sei que não satisfaz.
Quero andar numa rua cheia de gente,  gente como for, verde azul amarelo roxo, bissexual , tri-sexual, sem sexo nenhum, sem medo de radicais e raivosos de plantão.
Como se não bastasse a falta de espaço, ainda vem a  falta de tolerância e gera mais desamor, mais desamor.
Quero ver minhas vontades acumuladas, com tesão, com prazer, com sensação de absoluta felicidade.
Não quero sofrer ansiedade naquilo que é natural para mim.
Não quero me desculpar para poder me encaixar.
Quero amigos do peito, para toda hora, para toda estórias, que sejam fieis apesar de.
Quero ver a vida de frente e sentir que eu faço dela meu guia. e não somente ser levada na corrente dos acontecimentos pra só perceber que foi bom e bonito quando já passou.
Quero tudo isso e mais , sempre mais.
Quero pra mim e pra você.
Porque merecemos.
Falta só começar...
A vida não espera.