quarta-feira, 16 de junho de 2010

Batucada braba.

Helena sempre agiu conforme o figurino.
Boa moça, aprendeu a falar francês e alemão, estudou piano clássico, nunca bebia mas sabia tudo sobre vinhos, como uma moça fina deveria saber.Também não falava palavrão, nem palavras feias, nem chulas..
Se formou muito jovem e emendou a graduação em uma pós, mesmo sem saber se realmente gostava da área. Fazia trabalho voluntário e freqüentava a missa religiosamente aos domingos, mas não entendia direito e tinha medo de perguntar se Deus realmente existia. Helena nunca levantava a voz, nem entrava em debates e era muito, muito infeliz.
Aos 43 anos, solteira, sem filhos e ainda morando com a mãe, Helena ganhava o suficiente para fazer o que bem quisesse, só tinha um único problema, Helena não sabia o que queria.
Um dia resolver num impulso (o que deixou a mãe horrorizada) fazer uma viagem de cinco dias para a Bahia.
Helena foi com as mil recomendações dos amigos e parentes( tão sensatos como ela) que uma moça de família devia levar ao ir á um lugar assim.
Chegando no hotel, sem nada programado para fazer, Helena se permitiu andar a esmo e se viu caminhando em direção á um batuque delicioso. Fim de tarde, roda de capoeira, Helena se pegou vidrada observando os movimentos de um rapaz mulato forte e ágil, e se encantou. Ele também gostou dela e uma coisa levou á outra. Saíram. E com ele Helena experimentou de tudo. Descobriu incrédula que ama cachaça e comer arroz com ovo, que gosta de andar descalça e nadar pelada. Descobriu que o Deus que ela temia não era nada rígido e Helena começou a freqüentar as rodas de candomblé.
Helena largou o trabalho e montou uma pousada. Adora dar aula de francês para a criançada da vila. Anda sozinha sem medo e fala ás gargalhadas.
A mãe de Helena quase surtou. Ameaçou, se internou, ameaçou internar Helena.
Falou com amigos, com conhecidos, mandou cartas e faz uma novena ritmada na igreja para que Helena volte.
Boa moça que é, Helena nem se dá ao trabalho de entrar em debate.
Cortou relações e manda todo mês um postal mais lindo do que o outro só pra mãe ficar tranquila que Helena está viva.
O capoerista foi amor passageiro.
Não sei se Helena encontrou um novo amor.
Mas ela encontrou a si mesma.
E está muito feliz.

por dias mais transparentes.
bjos K.

2 comentários:

  1. Adorei esse texto. Como é bom se encontrar!! Bjs meninas

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  2. Excelente, K! E viva a Helena!
    bjos

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