segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A Paulista reprimida.

Ví um post de um querido amigo meu, também professor, sobre as maravilhas de andar a pé na Av. Paulista sem carros.
Sim, existe uma iniciativa, não sei de quem, de deixar a Paulista, a avenida mais popular de SP, desocupada de carros no fim de semana, para ser tomada por gente.
Fui lá dar meu like no post dele e vejo uma moça reclamando do caos no transito que isso provoca,  que os carros deveriam ser respeitados, que a cidade esta bagunçada e que lugar de pessoas é na calçada.
Meu amigo, um homem "phino", tentou argumentar, explicar que esse movimento humaniza a cidade. A tal moça não quis ouvir... O trajeto de carro dela até o shopping foi prejudicado e só isso importava.
Não importava que SP quase não tem parques, que a cidade está cada vez mais cinza, que diversão aqui só pagando... que estamos o tempo todo plugados, que não falamos com os vizinhos, que não vemos os amigos, não tomamos mais café, que almoçamos de pé, que estudamos no metrô, que enfrentamos filas até para ir ao banheiro, que os shows são carissimos, que a polícia ta dura e vida tá chata... UFAAAA...
Ela queria ir ao shopping e pegou transito.
Tira essa gente livre das rua... deixa o carro dela passar porrannnnn!!
Sou da geração que curtiu muito a cidade, cria dos anos 80, SP era tão divertida....
Saímos mais, riamos mais, conversávamos mais.
A cidade pulsava com musicas e shows underground.
Frequentávamos o centro velho, andávamos muito á pé , ficávamos deitados no vão do MASP.
A Paulista era parte do circuito, subiamos e descíamos a Augusta, bebíamos no Riviera,encontrávamos amigos no coco da Consolação,dançavamos a noite inteira no Madame Satã, curavámos a ressaca com um mate com leite na São João.
Viamos shows no Bixiga, comíamos em restaurantes baratos no Bom Retiro e voltávamos para a Paulista para repor a energia, para ver arte, para ver gente..
Ela vibrava, de barulho , de som, de cores...
Hoje vejo um SP envelhecida e amarga...
Gente pedindo a volta da ditadura, gente discutindo se deve pintar de cinza obra de arte, gente dizendo que quer ver o outro morto porque pensa diferente, gente usando religião como escudo e como lança também.
Gente querendo passar em cima de você com carro, briga no transito, espancamento de homossexuais, tudo captado pelas redes wi-fi.
Tudo conectado o tempo todo, menos as pessoas.
A lei do MEU impera.
Eu não pego ônibus, foda,-se o transporte publico.
Eu não moro na periferia, foda-se a falta de água.
Eu estou com presa, foda-se o sinal.
Eu não mando filho pra escola publica, foda-se o salário do  professor.
Eu tenho sitio privado, foda-se o verde inexistente.
Foda-se o lazer, foda-se o amor, foda-se a alegria...
Eu eu eu eu eu eu eu eu eu..., foda-se qualquer coisa não me envolva.
Eu odeio.
Eu odeio.
Eu odeio tudo.
Cadê aquela cidade que era o coração pulsante do Brasil?
Cadê aquela gente que lançava moda, que ousava?
Quando foi que nos tornamos tão mesquinhos e amargos?
Cadê o povo que vibrava madrugada adentro?
Cadê?
O que foi que aconteceu, que nossos carros são mais cidadãos que nós mesmos?
Quando foi que deixamos de existir para dirigir.
Tá cansando essa sua fase careta São Paulo minha véia querida....
Tá na hora de você dar uma desbundada e sair dessa depressão da meia idade.
Chega de tantos NÂOS>
Você sempre foi moderninha... coloca seu corpitcho# de mais de 500 anos  em dia e se entrega.
O povo nos carros não te percebe, não te nota, nem te entende... mas essa gente livre que anda sem correr, tá louca pra te ocupar.
Tá na hora dessa cidade gozar!
Vai Paulista... LIBERA GERAL!!!
Saudades de você....

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