quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Embaixo da ponte tem um viaduto.

Como todos bem sabem, eu não dirijo e não dirigir na cidade de São Paulo te coloca em uma categoria de cidadã observadora.
Quem passa o dia no carro vive alheio a estranhíssima fauna que ronda nossa cidade.
Pra mim que vivo á pé, as cores são outras.
Passo minhas tardes descrevendo para amigas as situações mais bizarras que vejo dia a dia  surpreende e que um cidadão motorizado não perceberia nunca com os vidros do carro fechados e a musica ligada.
Pego um ônibus lotado, hora do rush..ao meu lado senta uma moça vestida como advogada, saca o celular da bolsa e começa a falar muito alto com a voz anasalada.
-Claro amiga, escuta o que estou te dizendo, ele é casado e só quer te comer..
-Não amiga, ele gosta de você, mas não gooooossstaaaaaa entende?.
(Não ouço o outro lado da conversa, mas pelas respostas pode se imaginar aonde íamos parar.).
-Você usou a lingerie que te dei amiga?
-E o que ele falou amiga?
-Claro né amiga, não falha nunca. Você sabe que sou poderosa né amiga? E comigo ou dá ou desce...
-Amiga, falei pro Vanderlei que era a última vez aí ele me levou naquele motel, lembra amiga?
-Foi o máximo amiga, logo mais pode escrever que ele vai largar a loira azeda..
-Eu sou fogo amiga.
Presto atenção nessas coisas, não consigo evitar.
Se bem que no tom em que ela falava, tenho certeza que todo o ônibus prestava também.
Desço do ônibus atrasada para minha aula, pensando no que "a amiga" poderia ter dito.
Tento atravessar a rua mas sou impedida por uma multidão em circulo.
No meio da roda uma moto caída, dois homens no chão agarrados num mata leão.
O motoboy gritava com um homem visivelmente embriagado:
-Você podia ter nos matado
Ao que o homem respondia:
-Me larga mano, assim não quero mais brincar.
O povo em volta dá muita risada.
Parece que o bêbado em questão queria brincar de dançar entre os carros e acabou derrubando o motoboy. Quando foi jogado ao chão ele achava que o motoboy tinha entrado na brincadeira.
Esqueço o atraso e paro para um café no canto do bar um casal enamorado:
-Você lembra? Quando te liguei a primeira vez, achei que você não ia aparecer..
-Pois é- responde o rapaz com cabelo espetado e um leve blush.- Eu fiquei naquele restaurante japonês me embriagando de saquê achando que tinha tomado um cano.
O rapaz mais forte segura na mão dele e diz:
- Valeu a pena esperar não?
Eles sorriem e se abraçam, me pego sorrindo também.
Eles me olham, sorrimos todos.
Faz calor, a cidade está agitada.
Seguimos em direção oposta... me sinto acompanhada.
Os personagens da cidade fazem parte de mim, não sei o que eles pensam quando me vêem, mas tudo que ouço eu registro em algum lugar do meu dia,
eu os levo comigo.
Por segundos somos todos cúmplices da mesma cena.
Fazemos parte de algo imenso e incrivelmente particular...
Como juras de amor que se diz ao pé do ouvido.

Porque boas histórias nasceram para ser contadas.

Bom finde.
Bjos K.

Um comentário:

  1. Mas K, vc tem um talento todo especial para atrair as situações mais bizarras.
    Apesar de dirigir, vc sabe que ando muito à pé tb, e esse tipo de coisa não acontece comigo, rs. Talvez pq eu não tenha os seus olhos para apreciar.
    Bjos,
    X

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