sexta-feira, 1 de março de 2013

Prédio no chão

Estou cansada da cidade grande, do caos, do engarrafamento, das pessoas correndo, da falta de amor, dos pedintes, dos perdidos na solidão da multidão.
Sinto falta de colocar o pé na areia, na grama, na água.
Sinto falta do céu estrelado, do barulho de bichos, do ar fresco.
Quero passar duas horas falando com amigos, olhando nos olhos  e não aproveitar meu tempo presa no engarrafamento para trocar SMS  e colocar o papo em dia.
Nossa telefonia que não funciona reflete a falta de comunicação entre iguais.
Não quero que meu filho me ligue pra dizer que cruzou a cidade e está bem, que conseguiu ficar ileso da inundação, que não foi assaltado, que não correu risco em um desabamento de  prédio.
Quero ouvir dele que conheceu alguém legal, que se apaixonou, que viu uma obra de arte e se encantou, que viu um show que agradou, que teve momentos felizes.
Quero dormir sem sobressalto.
Sem ser acordada pelo vizinho brigando, pelo caminhão da pamonha passando, pelo medo de que perdi a hora.
Quero dormir o sonho dos justos, e apesar de não ser tão bacana assim, quero poder dormir em paz.
Quero poder visitar uma amiga e ficar conversando até altas horas sem me preocupar com o estacionamento, se vai fechar, se o carro vai estar lá, se a rua vai estar vazia demais, escura demais.
Quero fazer do meu tempo meu aliado e poder correr lado a lado e não ele na frente e eu sempre afobada atrás.
Quero comer sem me preocupar, se isso engorda, se tem agrotóxico demais  se é trans, se é pans, ou qualquer outra sigla que não sei o que quer dizer, mas sei que não satisfaz.
Quero andar numa rua cheia de gente,  gente como for, verde azul amarelo roxo, bissexual , tri-sexual, sem sexo nenhum, sem medo de radicais e raivosos de plantão.
Como se não bastasse a falta de espaço, ainda vem a  falta de tolerância e gera mais desamor, mais desamor.
Quero ver minhas vontades acumuladas, com tesão, com prazer, com sensação de absoluta felicidade.
Não quero sofrer ansiedade naquilo que é natural para mim.
Não quero me desculpar para poder me encaixar.
Quero amigos do peito, para toda hora, para toda estórias, que sejam fieis apesar de.
Quero ver a vida de frente e sentir que eu faço dela meu guia. e não somente ser levada na corrente dos acontecimentos pra só perceber que foi bom e bonito quando já passou.
Quero tudo isso e mais , sempre mais.
Quero pra mim e pra você.
Porque merecemos.
Falta só começar...
A vida não espera.

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